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Dias Felizes

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Para o Samuel

 

O mundo inteiro (e de corpo inteiro) feliz é uma possibilidade plausível fora das fantasias literárias excessivas?

O mundo inteiro, o cosmos inteiro, com as ilhas Desertas e as masmorras de Guatanamo e o domicílio de José incluidos, pois o sol quando nasce é para todos, mesmo os tanas, os badanas e os sacanas.  

Uma felicidade "gay" (à inglesa), naif (à portuguesa, sem naifas), infanto-juvenil mas sem a crueldade dos infantes, de sorrisos nascidos da piada fácil. É possível acreditar na felicidade, a que chamam dos tolos, dos loucos, dos sem nada na tola? Felicidade sem escárnio e mal dizeres, de malditos e malditos sejam?

As máscaras - em dia de bruxas - cerram-se e descerram-se, e neste primeiro post de muitos dias (felizes e menos felizes), falo abertamente da minha ideia de felicidade, onde cabe o prazer de escachar pessegueiro ou de satirizar a mim próprio por conta de apartes de bardo de banheira e pianista de hotel, ou ainda de prezar a leitura dos ditongos nasais da minha caçula tanto como prezo as calinadas de um senhor ministro. 

Ao nível do palato mole satisfaço-me plenamente com vinho branco (estirpes durienses em particular), ostras (estirpes Saint Jacques e de Cacela Velha), percebes (percebem?), uma geladinha artesanal de copo gelado, um whisky irlandês (que irá já a seguir), um Cohiba siglo V, uns tremoços, o salame cá de casa, um bife argentino ou de atum açoriano, um gin servido e oferecido pelo Miguel Somsen no Príncipe Real, uma mesa de amigos camaradas (sem o peso cáustico da palavra).

Ao nível da alma, nada como uma noite de amor, pois claro, noite em claro, claro está. Oxalá nunca diga como disse o Buñuel, que me libertei enfim do tirano. A alma fica feliz e contente se os filhos, por exemplo, dão umas belas gargalhadas e se soltam como só o fazem as crianças ou os loucos sadios, e talvez os humoristas e comediantes. Fico feliz quando escrevo e a escrita sai como agora, fácil, alegre, ladina, satírica se for o caso, e me der para dizer que ficarei feliz se a PAF for ao fundo, e passarem as passas dos Algarves o casal Silva e seus pagens. Fico feliz a ouvir o Keith Jarret (ainda que o saiba jarreta) ou o Mário Laginha e o JP Esteves da Silva, e tudo o que Mozart pariu, porque nada supera a emoção de ouvir um piano. Fico feliz a ler o Luiz Fernando Veríssimo, o Groucho Marx, o Woody Allen lúbrico ou a turma da Mónica.

Felicidade é ver-me rodeado de pessoas felizes, de gargalhada fácil, generosa e genuína, que animam os outros porque é o que faz falta, e nada cobiçam, nem querem aclamação ou se querem é justa que lhes seja retribuída.

Felicidade é ser capaz de fazer rir, nem que seja com umas cócegas ou a brincar ao chupa cabras. Felicidade quanto custa? Até aqui não fiz as contas, mas não deverá andar para além do ordenado mínimo. Felicidade é poder não pensar nas moléstias que traz a falta de dinheiro ou saber que a felicidade deu lugar à melancolia porque o dinheiro, que não compra a Felicidade, é bem capaz de ajudar a alugá-la.

Espero ter a felicidade de vos ver por aqui, e por falar em Felicidade, e no seu preço, até ao dia 7 de Novembro, em Coimbra, pelas 15h30, no Teatro da Cerca.

um abraço deste vosso

TS 

 

 

 

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