Campo dos Mártires da Pátria
Celebram-se hoje 70 anos do fim da II Guerra Mundial. Estou de visita ao Japão, o país mártir dos últimos dias da guerra mais mortífera que a Terra terá conhecido. Todo o país se veste de branco em memória de Hiroshima e Nagasaki. Entoam-se mantras e cânticos como se na música estivesse a melhor hipótese de paz para o mundo. É também dia de velar os espíritos dos antepassados. O rancor e o ressentimento deram lugar há muito a um discurso combativo por um ideal de paz e prosperidade. Um discurso colectivo, a fazer fé nas palavras das várias pessoas que me cruzam o caminho. Num táxi, o condutor pergunta:
- Porque vieram ao Japão?
- Curiosidade de confirmar umas quantas coisas, porque sorriem tanto, entre elas.
- Não sei explicar-lhe, mas sai-nos com naturalidade.
- As pessoas aqui são muito organizadas. Parecem formigas incansáveis.
- Formigas… sim. Acho que aprendemos com os erros do nosso passado que para ter prosperidade é preciso trabalhar. Não sei explicar-lhe…
- Têm coisas muito bonitas e pouco comuns de serem vistas em todo o lado. Os jardins estão sempre arranjados, as pessoas são muito educadas e delicadas, seja mulher ou homem. Sabe explicar (sorrimos)?
- É para não termos mais chatices… (ri-se)
- Zen, Budismo, Samurais, essas coisas da vossa cultura dizem-lhe alguma coisa?
- São bonitas… e temos orgulho nelas e que gostem delas. - Como é que lidam com a memória da Guerra?
- Cresci a ouvir que a nossa vida é o que fazemos com ela. Cada um tem o seu Deus e todos subimos a mesma montanha, cada um no seu passo. Tenho estudado muito a Bíblia porque me interessa saber o que há nela do budismo. Sou filho de budistas, mas tenho o meu Deus. E ando muito devagar… (ri-se)
Saímos do carro a pensar como as coisas mais belas são as mais simples e efectivas.